Quem é o ex-policial militar da PB suspeito de chefiar esquema de fraudes em concursos público
Como era o esquema familiar que cobrava até R$ 500 mil por cargo público O ex-policial militar Wanderlan Limeira de Sousa é apontado como um dos chefes do es...

Como era o esquema familiar que cobrava até R$ 500 mil por cargo público O ex-policial militar Wanderlan Limeira de Sousa é apontado como um dos chefes do esquema de fraude em concursos públicos, incluindo o Concurso Nacional Unificado (CNU) de 2024. Pelo menos outras quatro pessoas de sua família são suspeitas de terem se beneficiado e de integrar a organização criminosa. No último dia 2 de outubro, a Polícia Federal deflagrou uma operação para cumprir mandados de busca e apreensão e desarticular o grupo criminoso na Paraíba, Pernambuco e Alagoas. O ex-policial foi alvo de um mandado de prisão preventiva, que foi cumprido dentro de um hospital em Campina Grande. Wanderlan nasceu em Patos, no Sertão da Paraíba, e tem 44 anos. Ele é apontado como líder da quadrilha e tem uma ficha criminal extensa — que inclui homicídio, peculato (roubo ou desvio de dinheiro ou bens públicos), concussão (quando um funcionário público exige dinheiro ou vantagem indevida, usando a autoridade do cargo), roubo majorado (com agravantes), abuso de autoridade e uso de documento falso. A defesa do ex-policial militar afirmou ao g1 que aguarda o acesso a íntegra dos autos para tomar conhecimento das acusações. Ex-policial militar, Wanderlan Sousa, é apontado como chefe da organização criminosa Reprodução Ainda segundo a PF, Wanderlan teria se inscrito no CNU apenas para provar aos “clientes” que o sistema de fraude era eficiente. E conseguiu: foi aprovado para o cargo de auditor fiscal do trabalho, que tem o maior salário inicial, de R$ 22,9 mil. Após o resultado, não compareceu ao curso de formação. Wanderlan foi expulso da Polícia Militar da Paraíba em 2021. No ano anterior, a Câmara Criminal do Tribunal de Justiça da Paraíba manteve a condenação de seis anos de prisão pelo crime de tortura, além da perda do cargo público. A condenação ocorreu porque ele agrediu um adolescente com tapas e socos para forçar uma confissão de roubo, crime que, no dia seguinte, foi comprovado não ter ocorrido. O ex-policial ainda voltou a agredir a vítima dentro de uma viatura. Depois da expulsão, ele chegou a prestar concurso na Previdência Social, tendo sido aprovado como técnico do Seguro Social. A PF não identificou a participação de Wanderlan em nenhum concurso em 2023, mas indicou que ele voltou a fazer provas em 2024, prestando para o concurso do Banco do Brasil e do próprio CNU. Conforme o relatório da PF, para manter o esquema ativo, Wanderlan contava com o apoio de familiares: os irmãos Valmir Limeira de Sousa e Antônio Limeira das Neves, a cunhada Geórgia de Oliveira Neves e a sobrinha Larissa de Oliveira Neves ocupavam funções distintas dentro da estrutura. Larissa, por exemplo, também foi aprovada no CNU e, segundo os investigadores, era usada como "vitrine" para atrair novos interessados. Já Wanderlan, ao ser aprovado em vários concursos, reforçava a ideia de que o método era infalível. ➡️ Veja abaixo quem são os investigados e quais funções exerciam dentro da organização criminosa, segundo a PF. Máfia dos concursos Juan Silva e Dhara Pereira/ g1 Gabaritos idênticos Uma das evidências mais fortes reunidas pela PF está na análise dos gabaritos do CNU 2024, organizado pela Fundação Cesgranrio. Quatro candidatos, Wanderlan, Valmir, Larissa e Ariosvaldo, apresentaram respostas idênticas, inclusive nos erros, apesar de terem feito provas de tipos diferentes. O laudo técnico aponta que a probabilidade de que tal padrão ocorra por acaso equivale à chance de ganhar o prêmio máximo da Mega-Sena aproximadamente 18 a 19 vezes consecutivas. Segundo o inquérito, o grupo usava pontos eletrônicos, mensagens codificadas e comunicação externa para repassar as respostas durante o exame. Em alguns casos, profissionais da saúde auxiliavam na instalação dos dispositivos. Até o momento do deferimento das medidas cautelares, nenhum dos principais investigados por fraude CNU havia tomado posse . A PF e o Ministério Público Federal atuaram preventivamente, solicitando prisão preventiva, busca e apreensão e impedimento de posse ou afastamento cautelar. A PF identificou, ainda, movimentações financeiras incompatíveis com a renda dos suspeitos. Um relatório do Conselho de Controle de Atividades Financeiras (COAF), por exemplo, revelou que Geórgia Neves depositou R$ 419,6 mil em espécie, mesmo sem vínculo empregatício desde 1998. O grupo também teria recorrido à compra e venda fictícia de imóveis, feito o uso de “laranjas” e negociações de veículos para mascarar o pagamento de propinas. Em um dos episódios, parte do valor cobrado por uma vaga na Caixa Econômica Federal foi paga por meio da compra de uma motocicleta em nome de um terceiro, apenas cinco dias após a prova. A investigação identificou a atuação do grupo em dezenas de concursos públicos entre 2015 e 2025. Pelo menos dez pessoas foram apontadas pela investigação como beneficiárias do esquema de fraudes no Concurso Nacional Unificado (CNU) de 2024 — seja por terem sido aprovadas diretamente, apresentado gabaritos idênticos que indicam fraude ou recebido propinas para garantir a aprovação. Entre os investigados estão Eduardo Henrique Paredes do Amaral, Allyson Brayner da Silva Lima, Mylanne Beatriz Neves de Queiroz Soares, Janaína Carla Nemésio de Oliveira e Aially Soares Tavares Pinto Xavier. Já em possíveis fraudes relacionadas ao concurso da Caixa Econômica Federal, foram identificados os nomes de Júlio Cesar Martins Brilhante e Isabelle Nayane de Medeiros Dantas Aires. O g1 entrou em contato com os investigados e empresas mencionadas no relatório, mas até a última atualização desta reportagem, não obteve retorno ou conseguiu localizar todos os envolvidos. O portal permanece à disposição para receber e publicar os posicionamentos das partes citadas. Ariosvaldo Lucena de Sousa Júnior, por meio de sua defesa, nega envolvimento na suposta fraude no Concurso Nacional Unificado, alegando que os fatos se baseiam apenas em indícios e que sua inocência será comprovada durante o processo. O Ministério da Gestão informou que acompanha as investigações da Polícia Federal e cumprirá todas as determinações judiciais, adotando medidas administrativas se necessário. Operação Última Fase da Polícia Federal Polícia Federal faz operação contra quadrilha acusada de fraudar concursos públicos Uma pessoa foi presa preventivamente, em Patos, no Sertão paraibano, durante a operação Última Fase, da Polícia Federal, para desarticular uma organização criminosa especializada em fraudes a concursos públicos. A ação cumpriu mandados na Paraíba, Pernambuco e Alagoas. Segundo a PF, as investigações apontaram fraudes no Concurso Público Nacional Unificado (CNU) de 2024 — o chamado Enem dos Concursos — e em certames das Polícias Civis de Pernambuco e Alagoas, da Universidade Federal da Paraíba, da Caixa Econômica Federal e do Banco do Brasil. Na Paraíba, além do mandado de prisão preventiva no Sertão, foram cumpridos dois mandados de busca e apreensão, um também em Patos e outro em João Pessoa. Ao todo, são 12 mandados de busca e apreensão, três mandados de prisão preventiva e medidas cautelares na Paraíba, Pernambuco e Alagoas. Entre as medidas cautelares, estão o afastamento de cargos públicos e sequestro de bens. Após as investigações, os acusados foram excluídos de processos seletivos e, no caso de servidores nomeados, foram afastados de cargos públicos já ocupados. Eles também poderão responder pelos crimes de fraude em concurso público, lavagem de dinheiro, organização criminosa e falsificação de documento público. Vídeos mais assistidos do g1 Paraíba